O presidente do Santos, Andres Rueda, afirmou na manhã desta segunda-feira (26) que o técnico Ariel Holan pediu demissão do cargo de treinador do clube 63 dias após ser anunciado, em 22 de fevereiro. Ele foi apresentado em 1º de março. Rueda disse que ainda tentou impedir o rompimento precoce do vínculo de três anos, após a derrota por 2 a 0 para o Corinthians, na Vila Belmiro, neste domingo (25), mas Holan se mostrou irredutível.
A projeção inicial é que o argentino ainda comande a equipe na partida contra o Boca Juniors, nesta terça-feira, às 21h30, em Buenos Aires, pela segunda rodada da fase de grupos da Copa Libertadores da América.
“Conversando de maneira muito transparente e civilizada comigo, ele nos solicitou que o jogo de amanhã, contra o Boca, fosse o último. Disse que os resultados não estavam aparecendo e que achava que neste momento, onde existe uma pressão grande da torcida por resultados, o melhor que faria seria nos deixar”, afirmou Rueda.
O dirigente explicou que Holan também se mostrou incomodado com protestos em frente a sua residência, durante a madrugada. “Houve até caso de fogos no apartamento dele. Soltaram rojões e isso o deixou de uma maneira pouco confortável. Agora, de manhã, estamos vendo se realmente vai ser nosso técnico com o Boca.”
Holan, 60, chegou ao Santos como o escolhido para substituir Cuca, técnico vice-campeão da Libertadores em janeiro. Assumiu o comando de um time que convive há tempos com restrições financeiras e que até o último fim de semana não podia contratar novos atletas, por conta de uma punição da Fifa pela dívida na contratação de Soteldo -o venezuelano foi vendido ao Toronto FC no sábado (24).
Nesse cenário, o treinador classificou a equipe para a fase de grupos da competição sul-americana, eliminando o Deportivo Lara (VEN) e o San Lorenzo (ARG), porém logo viu o trabalho ser atacado após uma série negativa.
Depois da derrota por 2 a 0 para o Barcelona de Guayaquil (EQU) pela primeira partida da fase de grupos da Libertadores, os muros da Vila Belmiro amanheceram pichados com dizeres como “acabou a paz”, “tetra é obrigação”, “time pipoqueiro” e “vergonha”.
O Santos só venceu 1 dos últimos 7 jogos disputados, diante da Inter de Limeira, na Vila Belmiro, no último dia 18, com um gol na parte final do confronto. O projeto do clube era que o argentino permanecesse durante os três anos da gestão Rueda, empossado como presidente no fim de dezembro de 2020. A chegada do treinador não foi unânime no Comitê Gestor da agremiação, mas ganhou força após a rejeição a nomes como Lisca, do América-MG, e Tiago Nunes, contratado recentemente pelo Grêmio.
Dos sete membros do comitê gestor, grupo que administra o clube ao lado do presidente e do vice, três foram contrários -José Berenguer, Rafael Leal e Walter Schalka. A preocupação maior era não aumentar a folha salarial com um técnico de fora do país.
Holan chegou e, logo nos primeiros dias de trabalho no CT Rei Pelé, recebeu elogios pela metodologia de treinamento, comparada internamente ao trabalho do também argentino Jorge Sampaoli, mas, principalmente, pelo perfil agregador e de muito diálogo, diferente do mostrado pela comissão técnica de seu compatriota em 2019.
Holan deu espaço para membros da comissão técnica fixa, vistos por antecessores como concorrentes. O principal deles foi o auxiliar Marcelo Fernandes, presença constante no banco de reservas e que chegou a comandar a equipe no início da temporada.
Nos primeiros jogos, Holan foi celebrado pela coragem em escalar jogadores como o atacante Ângelo, de apenas 16 anos, e o zagueiro Kaiky, 17. O primeiro passou a jogar com regularidade com o time dividido entre Libertadores e Paulista, enquanto o segundo virou titular no setor defensivo, ao lado de Luan Peres.
As dificuldades do treinador começaram a aparecer após o empate por 2 a 2 com o San Lorenzo, em Brasília, em 13 de abril, quando foi criticado e assumiu o erro pela escalação de jogadores fora de posição. Mudanças se repetiram nas partidas seguintes, sem efeito dentro de campo.
A passagem de Holan pelo Santos foi encerrada com 12 jogos: quatro vitórias, três empates e cinco derrotas, um aproveitamento de 41,6%, o terceiro pior entre todos os treinadores que dirigiram a equipe neste século. Os números negativos só não superam os registrados nos trabalhos de Nelsinho Baptista, em 2005, com 30,7% de aproveitamento, e de Cuca, em 2008, 25,4%.
Ariel Holan, que havia deixado a Universidad Católica (CHI) para assumir o Santos, tem como principal feito no currículo um título da Sul-Americana. O argentino levou o Independiente (ARG), seu time do coração, à conquista do torneio em 2017, vencendo na decisão o Flamengo e erguendo o troféu em pleno Maracanã. Ele teve sua primeira experiência como treinador principal em 2015, quando recebeu um convite do Defensa y Justicia (ARG).
Para tentar se recuperar na Libertadores e no Paulista (em que corre risco de não avançar às quartas de final), o Santos ainda precisará superar as ausências de Soteldo e do volante Sandry, lesionado. Holan já iniciou o trabalho sem dois titulares considerados pilares da equipe de Cuca: o zagueiro Lucas Verísimo, negociado com o Benfica, e o volante Diego Pituca, com o Kashima Antlers.
O clube informou que já estuda alguns nomes para assumir o time, mas também há possibilidade de apostar na permanência da comissão técnica fixa. Marcelo Fernandes foi campeão paulista pela agremiação da Vila Belmiro em 2015.
Fonte: Folhapress